Ao sair do Palácio dos Bandeirantes, me sentei num banco de praça e fiquei olhando para todas aquelas luzes de Natal. Instante que me trouxe a lembrança de tudo que passamos nestes 800 dias de luta.
Cada protagonista terá uma história para contar. A minha começou com uma crença de criança, uma ideia de que podemos agir em favor de um Mundo Melhor. Confesso que isto já me trouxe grandes problemas, mas deixo esta parte para um outro texto.
A ideia de um pedágio, separando bairros periféricos de todos os serviços essenciais do centro da cidade, me trouxe enorme desconforto. Um muro nos dividindo? A história mostra que este nunca foi um bom caminho…
Mãos à obra e, em 3 dias, organizamos a primeira manifestação! Tudo sempre começa com a Adrianny, depois, Gilberto, Roberta, Carlos, Bonora.. Amigos não são apenas para tomar uma cerveja, às vezes a gente bota eles numas encrencas também!!
Achamos que seria 30 ou 40 carros na rodovia. Confesso que fiquei assustado ao ver mais de 400 veículos prontos para partir. Lá estavam reunidas as pessoas da Serra do Itapeti, gente que, como eu, resolveu não aceitar o tal muro. Neste dia, conheci o Luiz do Taboão e o Fábio da Capelinha, líderes e hoje amigos, que se tornaram essenciais nas batalhas que sucederam.
Não demorou muito para a imprensa “comprar” esta briga com a gente. Mogi tem o privilégio de ter alguns jornalistas que possuem amor pela cidade. Um olhar brilhante, nitidamente percebido em longas conversas com a Eliane, o Darwin e nos infindáveis “Bom dia” da Marilei.
O sucesso do nosso primeiro ato veio acompanhado de uma grande responsabilidade e, naturalmente, ao longo dos dias, um time de gente boa foi sendo formado. O Leandro e a Fernanda foram as mentes criativas. O Mauro poderia ter estudado o projeto, mas resolveu devorá-lo. Naquela altura, a minha voz tinha se tornado um potente veículo, onde, em cada frase, estava contido o suor destes amigos.
Mogi das Cruzes está entre as cidades mais antigas do Brasil. Cidadãos com histórico de luta já foram talhados por aqui. Neste contexto, a vinda do Nelson Batalha e do Gildo Saito foi elementar. Verdadeiros mentores, que trouxeram a experiência que o time precisava. Mesmo caminho percorrido, posteriormente, pelo Valterli Martinez.
Chegando na primeira metade desta luta, com o reforço do Jonas de Jundiapeba, montamos um time totalmente empenhado em derrubar esta ameaça e evitar um desastre social na região. Nunca tivemos liderança única, pois cada um foi sabedor da responsabilidade que carregou.
Tivemos numerosas vitórias e outras tantas derrotas. Além das 40 mil assinaturas colhidas nas manhãs de sábado, muito além das dezenas de manifestações ou dos milhares de veículos adesivados. Nosso time tomou a mais importante decisão: Resolvemos ser pacíficos, e este foi o nosso grande acerto.
Optamos pelo diálogo e conversamos com os principais líderes políticos do país. Da extrema direita à extrema esquerda, não importava, pois nem os engenheiros da Artesp tinham tanto conhecimento quanto o Time “Pedágio Não”. Estávamos preparados para convencer cada um deles, e assim fizemos.
Uma disputa que chegou a ser ridicularizada por parte da sociedade, já não parecia tão impossível de ser vencida. O gigante Golias, naquela altura um tanto incomodado, não precisaria ser derrotado, embora estivéssemos preparados. Para nós, bastava que Golias fosse convencido.
Na grande mesa do Governador do Estado de São Paulo, estavam sentados os políticos do Alto Tietê, cada qual com suas diferenças e rivalidades típicas, sem exceção, deixaram isso tudo na porta do Palácio dos Bandeirantes e, em sinal de reconhecimento da luta popular, se uniram num posicionamento firme.
Na mesa do Palácio, deram voz a um homem sem patentes, pois, naquele momento, tive a honra de representar os meus amigos e as pessoas da minha cidade.
Vencemos uma luta que não teve derrotados. A luta inspirada pelo pacifismo de Martin Luther King e de tantos outros que vieram depois.
Mogi venceu!