Com os salários entre os piores do País, sem reajustes consistentes e corroídos por perdas inflacionárias nas últimas décadas, delegados da Polícia Civil paulista têm a recomposição do holerite como prioridade. É o que revela pesquisa inédita do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp). Hoje, para complementar a renda, muitos precisam recorrer a atividades extras.
A pesquisa “Raio-X da Carreira de Delegado de Polícia”, do Instituto Datapim, ouviu 711 delegados, entre ativos e aposentados, em abril deste ano, em todas as regiões do estado bandeirante. Quando perguntados sobre qual área que o governador Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) deveria dar mais atenção para melhorar a vida dos delegados, 74% responderam reajuste salarial compatível com melhores salários pagos em outros estados.
São Paulo, atualmente, ocupa o 22º lugar no ranking de vencimentos entre as 27 unidades da federação. Mato Grosso, que melhor remunera seus delegados no País, paga mais de R$ 10 mil a mais na comparação com São Paulo.
Ainda segundo a pesquisa do Sindpesp, 6 em cada 10 delegados tem ou já tiveram alguma atividade extra para complementar a renda. E mais: praticamente, metade dos que têm outras ocupações declaram que há impacto negativo no rendimento da atividade policial e na saúde física e mental decorrente do excesso de trabalho.
Este é mais um aspecto que reforça a luta pela readequação remuneratória, como explica a presidente do Sindicato dos Delegados do Estado de São Paulo, Jacqueline Valadares:
“Com esta pesquisa, fica claro que a prioridade número um é a reposição salarial, com a necessidade urgente de vencimentos dignos e condizentes com o estado que detém a maior arrecadação tributária do País – uma contradição injusta. O único reajuste na nova gestão no Estado ocorreu em agosto do ano passado – e já estamos em junho de 2024. E, até o momento, nem a reposição inflacionária anual foi concedida à Polícia Civil”.
Por outro lado, servidores do Tribunal de Contas do Estado (TCE) tiveram 5,1%, como revisão – porcentagem autorizada no último dia 19, o que gerou questionamentos no meio policial. Além disso, procuradores do Estado foram beneficiados com recente concessão, por parte do governo, de licença compensatória por excesso de trabalho – quem estiver sobrecarregado poderá tirar um dia de folga a cada 3 trabalhados, até o limite de 7 dias de descanso no mês, ou receber o valor em dinheiro.
“Por que a Segurança Pública, até o momento, não recebeu, sequer, uma sinalização de que também terá esta revisão, se a Constituição Federal assegura este direito a todos os servidores, sem distinção? Segundo especialistas, a carreira de delegado de Polícia acumulou nos últimos anos perdas inflacionárias no montante aproximado de 30% e o atual governo, ao não repor nem a inflação anual, está sinalizando que vai seguir a política anterior – a de não valorizar o profissional da Segurança Pública de São Paulo”, lamenta Jacqueline.
Evasão na carreira
Mesmo com a recente nomeação de novos policiais civis, o efetivo continua abaixo do necessário em São Paulo. Antes, o déficit era de 17 mil e, agora, está em 13 mil. As desistências da carreira não param e são preocupantes. Há pouco dias, o Diário Oficial do Estado (DOE) publicou ato tornando sem efeito a nomeação, recente, de 337 policiais civis, entre escrivães, investigadores, médicos legistas e delegados:
“São profissionais que desistiram de trabalhar na Polícia Civil de São Paulo, entre outros motivos, pelas precárias condições de trabalho e pelo salário incompatível com a relevância e a complexidade do cargo. De nada adianta fazer concursos se não houver política de incentivo à permanência na instituição”.
Para Jaqueline, é necessário que o Governo do Estado de São Paulo adote medidas para reverter a “grave situação”, que compromete a atividade da Polícia Judiciária e a investigação criminal, prejudicando e colocando em risco a população paulista:
“Chegou a hora de o governador Tarcísio honrar seu compromisso de campanha – o de valorizar os profissionais da Segurança Pública, resgatando a dignidade salarial desses valorosos profissionais”, defende a presidente do Sindpesp.