JUNTO HÁ 9 ANOS, CASAL QUE PERDEU VISÃO NA ADOLESCÊNCIA SE REENCONTRA NA VIDA ADULTA: ‘MEU PRIMEIRO NAMORADO’

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Juntos há 9 anos, o casal Josiane e Rafael, de Bauru (SP), são um exemplo de como os desafios comuns podem ser uma força para união. Entre encontros e desencontros, a vida colocou o casal frente a frente após ambos perderem a visão na adolescência, mas nada que pudesse impedir o sentimento mais concreto entre os abstratos: o de amor um pelo outro.

Em entrevista ao g1, Josiane da Silva Arantes conta que, apesar da diferença de quatro anos entre os dois, o casal se encontrou ainda no período escolar. Desde muito novos, ambos frequentaram a Instituição Santa Luzia, um lar de apoio a deficientes visuais de Bauru.

Carinhosamente apelidada de Josi, ela passou a ir ao local após perder a visão, aos 13 anos, por conta de uma hidrocefalia. O problema, conhecido desde a infância, a qualquer momento poderia torná-la deficiente visual, como se concretizou anos depois.

“Era uma veia no cérebro que bombeia o líquido para a bexiga. Fiz uma cirurgia ainda na infância e o líquido vazou. Então, desde bebê eu sabia que isso de perder a visão poderia acontecer”, conta.

Rafael, por sua vez, perdeu a visão aos 12 anos em decorrência de um descolamento de retina. Mal podia imaginar que isso o levaria a conhecer a “mulher de sua vida”. O encontro não foi fácil, muito pelo contrário. Depois de alguns meses, os amigos dos dois, em especial de Josiane, começaram a tentar apresentá-los um para o outro.

“O pessoal ainda na escola vinha até mim e falava ‘fulano é solteiro, viu’. Depois de um tempo, a gente começou a conversar. Conversa vai, conversa vem, o que fez surgir uma amizade”, lembra Josi.

Encontrar um amor nunca é fácil. Josi teve não apenas de encontrá-lo, como também de enxergá-lo através dos outros. Apesar disso, ela crê que a união dos dois, do qual se diz eternamente grata, só foi possível por conta da perda de visão.

“Quando a gente entra na escola, a gente pergunta para a professora ‘como fulano é’ e, a partir disso, vamos criando uma imagem da pessoa. Comecei a ficar perto dele, conversa vai, conversa vem. Aí me falaram que ele tem 1,75 metro, é gordinho, branquinho, tem barba curta. Nisso, eu fui criando na imaginação”, recorda.

“Isso quer dizer que se nem ele, nem eu perdêssemos a visão, provavelmente não teríamos nos conhecido”, complementa Josi.

Mas a história só estava no começo, assim como os desencontros da vida de ambos. Neste momento, aos 14 anos, Josi conta que sua mãe a impediu de iniciar um namoro com Rafael.

“Ele tinha 18 anos, eu 14, aí sabe como é proteção de mãe, né?! Disse que eu não iria namorar. Eu acabei deixando passar”, ri em meio à lembrança.

Com a separação forçada, o romance adolescente teve que deixar o tempo amadurecê-lo. Rafael, mais velho, chegou a ser casado, enquanto Josiane teve que esperar os 21 anos, idade em que a mãe “liberou que ela namorasse”.

Os dois continuaram a frequentar o Lar Santa Luzia, onde compartilhavam aulas de teatro, informática e a recordação de um amor de adolescência. Em pouco tempo, estavam novamente juntos e passaram a dividir, além das atividades na instituição, o amor um pelo outro.

“Ele é meu primeiro namorado e marido. Meu amor. No começo, eu morava com a minha mãe, aí passava o fim de semana com ele. Fiquei uns dois anos nesse sistema, até que ele falou que não dava mais certo de eu ir embora todo final de semana e pediu para testarmos uma vida de casal. E assim estamos até hoje”, recorda Josi.

O amor a dois logo ganhou um terceiro elemento: a filha Emily Sofia. Hoje, aos três anos, Josi relata o medo inicial à época, especialmente por descobrir a gravidez apenas aos sete meses de gestação, mais um quase desencontro da vida.

“Durante uma visita a um médico de rotina, ele falou ‘vamos fazer um exame’. Deu positivo e, para minha surpresa, eu já estava com quase sete meses, já estava quase nascendo! Senti um pouco de medo e insegurança, mas contei com a ajuda da minha família. A minha cunhada veio morar conosco e, inclusive, mora até hoje e ajuda a cuidar dela. A gente se vira bem”, fala Josiane.

Atualmente, o casal permanece na instituição em que se conheceu, compartilhando as atividades que uniram os dois. A rotina, considerada tranquila, visualiza um futuro não só para o casal, mas também para a família.

“A nossa rotina é tranquila, uma vida normal, como a de todo mundo que enxerga. A nossa filha é os nossos olhos para o futuro”, dizem.

Fonte: g1 – Globo

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